terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Textos falam uns com os outros... INTERTEXTUALIDADE

Chama-se intertextualidade à relação que podemos estabelecer entre textos expressos por diferentes linguagens.



Se num texto eu vejo partes entre aspas e com notas a indicar o autor e o livro donde se extraiu a citação, então aqui está explícita a intertextualidade.


Normalmente nos textos literários, a citação de outros textos é implícita, ou seja, um poeta ou romancista não indica o autor e a obra donde retira as passagens citadas, pois pressupõe que o leitor compartilhe com ele um mesmo conjunto de informações a respeito de obras que compõem um determinado universo cultural. Há necessidade de ler muito!! Quanto mais conhecermos, melhor nos apercebemos das relações/diálogos entre textos.

Bem, eis aí a importância de ler sempre. Assim como as palavras de um texto não se juntam de forma isolada, os livros não são escritos ao acaso. Toda obra é fruto de influências contidas nas leituras anteriores de quem escreveu.



No último teste de avaliação de Língua Portuguesa, o texto A (excerto do livro "Leandro, rei da Helíria" - texto literário)  e o texto B (excerto de um texto informativo sobre a interpretação dos sonhos) eram diferentes na forma, mas semelhantes no conteúdo/tema.
Podemos dizer que dialogavam um com o outro, pois ambos falavam de sonho e do seu significado.


CONCLUSÃO


1- Textos verbais, pela palavra
      Textos icónicos/visuais, pela imagem
     "Textos" auditivos, pelo som e pela música...

                                            ...não existem isolados, integram um todo.


2- A  ligação ou interacção de sentido entre vários tipos de texto que resulta de uma leitura comparada chama-se intertextualidade



3- Intertextualidade:

-Formal ou estrutural
(textos com a mesma forma, mas temas diversos)

-Temática
(o mesmo tema é abordado em perspectivas diferentes e por diversos tipos de texto)

 





APLICAÇÃO

1º- A partir da Leitura Comparada dos dois textos poéticos que se seguem, realiza a análise intertextual

Nota:
Antes da leitura dos dois textos poéticos (texto literário)/ poema 1 e poema 2 que se seguem, relembra as características do texto poético:




ORIENTAÇÕES:
Lê os dois textos e, depois, procura analisá-los seguindo os tópicos que se seguem:

  •  Pontos de relação ou “diálogo”entre Poema 1  e Poema 2

- Intertextualidade temática /Tema

Semelhanças:
Diferenças:



- Intertextualidade formal ou estrutural /Forma


Semelhanças:
Diferenças:



 
Poema 1

O SONHO


Pelo sonho é que vamos,

Comovidos e mudos.

Chegamos? Não chegamos?

Haja ou não frutos,

Pelo Sonho é que vamos.



Basta a fé no que temos.

Basta a esperança naquilo

Que talvez não teremos.

Basta que a alma demos,

Com a mesma alegria, ao que é do dia-a-dia.



Chegamos? Não chegamos?



-Partimos. Vamos. Somos.

 


Sebastião da Gama







Poema 2

Pedra filosofal


Eles não sabem que o sonho

é uma constante da vida

tão concreta e definida

como outra coisa qualquer,

como esta pedra cinzenta

em que me sento e descanso,

como este ribeiro manso,

em serenos sobressaltos

como estes pinheiros altos

que em verde e ouro se agitam

como estas aves que gritam

em bebedeiras de azul.



Eles não sabem que o sonho

é vinho, é espuma. é fermento,

bichinho alacre e sedento.

de focinho pontiagudo,

que fossa através de tudo

num perpétuo movimento.



Eles não sabem que o sonho

é tela, é cor, é pincel,

base, fuste, capitel.

arco em ogiva, vitral,

pináculo de catedral,

contraponto, sinfonia,

máscara grega, magia,

que é retorta de alquimista,

mapa do mundo distante,

rosa dos ventos, Infante,

caravela quinhentista,

que é Cabo da Boa Esperança,

ouro, canela, marfim,

florete de espadachim,

bastidor, passo de dança.,

Colombina e Arlequim,

passarola voadora,

para-raios, locomotiva,

barco de proa festiva,

alto-forno, geradora,

cisão do átomo, radar,

ultra som televisão

desembarque em foguetão

na superfície lunar.



Eles não sabem, nem sonham,

que o sonho comanda a vida.

Que sempre que um homem sonha

o mundo pula e avança

como bola colorida

entre a mãos de uma criança.

António Gedeão



*(A pedra filosofal é a substância mágica da alquimia que permite a transmutação dos metais, a cura de todas as doenças e a imortalidade. Infelizmente, como muitas outras maravilhas sonhadas pelos alquimistas, esta substância só existe na imaginação.)

(ver pág.249 do Manual de L. Portuguesa)

DESAFIO

Tenta fazer a análise intertextual, relacionando um destes poemas com uma cena à tua escolha do texto dramático "Leandro, rei da Helíria".

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